sexta-feira, 4 de outubro de 2019

The story of the Great Green Wall - A história da Grande Muralha Verde

Imagem dos bastidores do documentário 'The Great Green Wall' — Foto: The Great Green Wall/Divulgação

África ergue Grande Muralha Verde 
para conter a seca



                 Enquanto o presidente Donald Trump segue com sua ideia de construir um muro na fronteira com o México para evitar a entrada de pessoas, no continente africano um outro gigantesco muro está se erguendo há mais de uma década. Mas, lá, o muro será verde, feito de árvores, vai ter 27 quilômetros de largura por oito mil quilômetros de comprimento e servirá a um propósito mais do que nobre: conter a desertificação e, por consequência, dar mais chances aos africanos de cultivarem sua comida. E é bem possível também que a Grande Muralha Verde, como vem sendo chamada, consiga no futuro conter migrações e poupe, assim, muitos africanos de serem humilhados em países que não os querem.

            Esta história está sendo contada no documentário “The Great Green Wall”, dirigido por Jared P. Scott e co-produzido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Há dois anos eles estão com as câmeras em ação, acompanhando a cantora do Mali Inna Modja, que protagonizará a narrativa:

            “A iniciativa dos países do norte da África é criar uma barreira ao sul do Saara e do Sahel. Esta muralha verde pode deter o avanço do deserto e fertilizar as áreas onde será plantado, fixando a população local e evitando mais emigração. A ONU quer promover a ideia para que países apoiem a iniciativa que custará nove bilhões de dólares. Independentemente de a floresta funcionar como uma barreira ou como fertilizador do solo, só este dinheiro injetado na região já ajudaria muito”, comentou Meirelles no texto que recebi por mensagem apresentando o projeto.







                  O documentário ainda não tem data de exibição prevista e está sendo realizado para a Convenção das Nações Unidas para o combate à desertificação, uma agência da ONU.

                   A Grande Muralha Verde deve ir do Djibuti, país que fica no nordeste da África, até a cidade de Dakar, no Senegal, que, segundo o documentário, foi o primeiro país que começou a construí-la. Uma coincidência merece registro: tanto para erguer o muro da nação mais rica, quanto para plantar a muralha no continente que prossegue sendo um dos que tem maior número de pessoas que vivem em extrema pobreza (segundo o mais recente relatório da pobreza em África feito pelo Banco Mundial), o valor estimado é bem semelhante: de 8 a 9 bilhões de dólares.

               O cientista responsável pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, Barron Joseph Orr, explica no site da instituição que a ideia não é só plantar árvores, mas criar um “valor agregado”. Com a ajuda de instituições como o Banco Mundial e outras agências da ONU, como a FAO, o objetivo é criar condições para que as pessoas possam plantar em locais que hoje não oferecem esta possibilidade por causa do solo desértico.

                 De acordo com Orr, “a expectativa é de que o projeto esteja concluído até 2030 e que, com ele, dez milhões de empregos verdes sejam criados”. A África tem a população mais jovem do mundo, portanto envolver os jovens africanos numa iniciativa que servirá para amenizar o flagelo da seca, parece mesmo uma ideia excelente.Mas, como sabemos, as mudanças climáticas podem mudar todo o curso das coisas. Uma nova pesquisa, lançada ontem (16) pelo jornal britânico “The Guardian”, mostra que o continente africano poderá ter muitos surtos de chuvas intensas nos próximos 80 anos.

           "Essencialmente, o que descobrimos foi que os extremos climáticos de África ficarão mais severos. Vai ter mais eventos de chuvas, assim como os períodos de seca durante a estação de crescimento também se tornarão mais graves", disse Elizabeth Kendon, do Centro Hadley do Met Office em Exeter, à reportagem.

            O que acontece é que muitos países do continente – incluindo Níger, Nigéria e a República Democrática do Congo – deverão ter um aumento substancial da população durante esse período, justamente porque lá há mais jovens. Para muitos, este aumento é prejudicial, mas há quem acredite que a humanidade, que tem causado tantos males ao meio ambiente, também pode ser a solução, como se viu na iniciativa que será mostrada no documentário co-produzido por Fernando Meirelles.

       No passado, pensava-se que as chuvas intensas ocorressem no continente africano a cada 30 anos. Mas o novo estudo, feito com a ajuda do Reino Unido e o publicado na revista “Nature Communications”, mostra que este período está se encurtando cada vez mais, e hoje já se percebe chuvas intensas a cada três anos. No fim das contas, a conclusão é de que a África será um continente dos mais vulneráveis às mudanças do clima.

           E pensar que esta situação já foi muito diferente. O livro “A corrida pelo crescimento”, escrito pelo indiano Deepak Nayyar, professor de economia indiano e editado pelo Centro Internacional Celso Furtado, remonta ao ano 1000 da história da humanidade. Nessa época, junto com Ásia e América Latina, a África, tomadas em conjunto, respondiam por 82% da população mundial e 83% da renda global. A primeira metade do segundo milênio, no entanto, assistiu a sinais de mudança na importância econômica da Europa Ocidental:

           “Essa mudança tornou-se mais clara nos três séculos seguintes. Entre 1500 e 1820, a participação da Ásia, da África e da América Latina na população mundial permaneceu em ¾, inalterada, mas sua participação na renda mundial declinou de 73% para 63%”, escreve o autor.

            Nos cinquenta anos que se passaram a partir daí, uma nova ordem econômica internacional tornou-se claramente definida.

              “A divisão internacional do trabalho tinha-se modificado. Era visível o começo da divisão entre o que hoje descrevemos como países industrializados e países em desenvolvimento na economia mundial”.

      Uma visita aos dados históricos sempre é importante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário